Histórico do Programa

O Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços (PPGEF), sediado no Câmpus do Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS-CPAN), foi criado em 2008, em resposta à necessidade de formação qualificada voltada às especificidades das regiões de fronteira e às demandas sociais, políticas e culturais do Pantanal sul-mato-grossense.

O Campus do Pantanal foi criado em 1967 com quatro cursos de graduação (História, Letras Português/Inglês, Pedagogia e Psicologia). Atualmente, o CPAN possui 14 cursos de graduação (além dos pioneiros, Administração, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Direito, Geografia, Educação Física licenciatura e bacharelado, Letras Português/Espanhol, Matemática e Sistemas de Informação), além da Residência em Psicologia Clínica, Especialização em Matemática para Educação Básica e o stricto sensu em Educação (mestrado e doutorado).

Corumbá é uma cidade localizada no extremo ocidental do estado de Mato Grosso do Sul, na fronteira do Brasil com a Bolívia. É uma das cidades mais antigas do estado (21 de setembro de 1778). Limita-se territorialmente a Leste com Ladário-MS, pelo lado brasileiro, e a Oeste com Arroyo Concepción, distrito de Puerto Quijarro, da província Germán Busch, departamento de Santa Cruz, no lado oriental boliviano. Conta com cerca de 100 mil habitantes e fica a 430 km da capital do estado, Campo Grande. Um aspecto diferenciado é que Corumbá e Ladário estão a mais de 200 km da cidade brasileira mais próxima (Miranda-MS), separadas/unidas pelo Pantanal, e a menos de 10 km das cidades bolivianas fronteiriças (Puerto Quijarro e Puerto Suárez). Juntas, essa aglomeração fronteiriça soma uma população de, aproximadamente, 170 mil habitantes.

No contexto geral, há uma grande heterogeneidade e complexidade das questões sociais na zona fronteiriça na qual se localiza a cidade de Corumbá, fruto de uma integração regional, das complementaridades decorrentes dos laços que se estabelecem entre os povos dessas franjas de territórios nacionais. Isso significa que a migração internacional não é somente um movimento linear, mas também um elemento em interação com as dinâmicas dos espaços e sociedades locais e regionais.

Corumbá cumpre historicamente seu papel como cidade regional que, por meio do desenvolvimento de formas variadas de circulação de pessoas e mercadorias, vem desempenhando um dinamismo singular e aumentando sua capacidade de cidade polo e abastecimento regional. 

Para a criação do mestrado, a proposta foi elaborada contando com a participação de pesquisadores da UFMS-CPAN, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Pantanal (Embrapa Pantanal) e de outros Câmpus da UFMS (Campo Grande e Três Lagoas). 

A opção pelo mestrado profissional se deu exatamente pelo perfil dos docentes com experiência com trabalhos técnicos. Vale destacar que os docentes pioneiros neste Programa da UFMS possuíam experiências profissionais diversas como: elaboração de planos diretores participativos, elaboração de planos de desenvolvimento do turismo, membros de equipes de estudos e avaliação de impacto ambiental, atuação como secretários municipais de governo, assessorias diversas a empresas e prefeituras municipais, dentre outras. Os pesquisadores da Embrapa que atuavam nessa proposta tinham larga experiência em assistência técnica e ações de extensão rural. Esses elementos qualificaram o grupo proponente do mestrado para as discussões acerca do desenvolvimento, considerando, principalmente, as dinâmicas culturais, sociais, históricas, espaciais, econômicas e ambientais em área de fronteira. Essa parceria no desenvolvimento de atividades e ações de intervenção é reforçada pela natureza interdisciplinar das ações práticas. Em essência, os projetos de pesquisa carecem de equipes inter e multidisciplinares, o que impulsiona a aproximação entre os pesquisadores dessas instituições e, ainda hoje, pesquisadores da Embrapa atuam no PPGEF de forma direta (docente permanente) ou indireta (membro de projetos de pesquisa e extensão, ou de bancas).

Dentro deste contexto, fica evidente que a criação do PPGEF resultou do amadurecimento de um grupo interdisciplinar de pesquisadores que, desde os anos 2000, desenvolvia estudos voltados às dinâmicas socioterritoriais da fronteira Brasil–Bolívia. Sob o guarda-chuva da interdisciplinaridade, o programa consolidou-se como um espaço de diálogo entre diferentes áreas do conhecimento, abrigando temas como mobilidade humana, desenvolvimento territorial, políticas públicas, educação, saúde e trabalho. Essa concepção interdisciplinar, presente desde sua origem, materializa-se atualmente na proposta curricular, nas linhas de pesquisa e nos projetos do Programa, voltados à construção de saberes aplicados à solução de problemas concretos da região fronteiriça.

O mestrado foi criado, inicialmente, com as seguintes linhas de pesquisas: Ocupação e Identidade Fronteiriças; Desenvolvimento, Ordenamento Territorial e Meio Ambiente; e, Saúde e Trabalho da População de Fronteira. Ao longo de sua trajetória, o programa aprimorou e, hoje, possui duas linhas de pesquisa — Estratégias Políticas, Mobilidade Humana e Desenvolvimento Territorial e Saúde, Educação e Trabalho —, refletindo a vocação interdisciplinar e socialmente comprometida de sua proposta formativa.

O Programa estabeleceu estratégias de divulgação científica que se mostraram decisivas para sua visibilidade e consolidação. Uma das primeiras foi a criação da série editorial Fronteiras, publicada pela Editora da UFMS entre 2009 e 2013, com seis volumes que reúnem capítulos de docentes e discentes do Programa e de pesquisadores nacionais e internacionais de referência nos estudos sobre fronteira. Atualmente, essa estratégia encontra-se pulverizadas nos grupos de pesquisas liderados pelos docentes do PPGEF, principalmente os que integram o Observatório das Migrações Internacionais (MIGRAFRON) e o Observatório de Inovação Social da Fronteira (OBISFRON).

Após o primeiro triênio (2008-2010), o Programa foi, aos poucos, deixando de lado a parceria institucional com a Embrapa Pantanal. Isso porque, os docentes do CPAN foram obtendo titulação de doutorado, adquirindo experiência em pós-graduação, fortalecendo a Iniciação Científica nas bases dos cursos de Graduação e buscando a aprovação de projetos com fomento externo. Enquanto curso de Mestrado Profissional, o PPGEF alcançou conceito 4 na CAPES na quadrienal 2017–2020 e, a partir de 2025, passou a ofertar também o Doutorado Profissional, ampliando sua inserção científica, regional e internacional. 

Durante sua trajetória, o PPGEF alcançou reconhecimento nacional e internacional ao articular ensino, pesquisa e extensão em torno de um mesmo eixo: compreender e transformar as realidades fronteiriças. Para citar alguns exemplos, desde 2008 promove o Seminário Internacional de Estudos Fronteiriços (SEF), que já realizou nove edições com participação de pesquisadores de toda a América e apoio de redes como a Association for Borderland Studies (ABS) e a Asociación Latinoamericana y Caribeña de Estudios Fronterizos (ALEF). 

Ao longo de suas nove edições (2008-2025), o SEF consolidou-se como o principal evento acadêmico da área, reunindo instituições parceiras como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), El Colef (México), Universidad Arturo Prat (Chile), Universidad Nacional da Colômbia e outras universidades latino-americanas. Desde o IV SEF (2013), o evento é realizado bienalmente e conta com apoio da CAPES, Fundect e demais agências de fomento. A última edição, realizada em 2025, obteve o recorde de participantes (270 pessoas), de submissão de trabalhos completos (166 artigos) e foi realizada com recursos do Edital PAEP–CAPES 2025. Dessa forma, o evento já se consolidou como uma das principais vitrines de difusão científica sobre fronteiras no continente e as expectativas para a décima edição (2027) são altas.

Até dezembro de 2024, o programa titulou 212 mestres, muitos dos quais ocupam posições estratégicas em instituições públicas, de ensino, cultura e gestão (pública e empresarial). Em diálogo com o eixo profissionalizante da pós-graduação, essa trajetória reforça o papel do PPGEF na formação de quadros qualificados para atuar em contextos de alta complexidade social e territorial.

Outra iniciativa que ampliou a inserção científica do Programa foi a incorporação da Revista GeoPantanal como periódico de referência em estudos fronteiriços no país, reconhecida pelo Unbral Fronteiras, portal de acesso aberto das universidades brasileiras sobre limites e fronteiras da UFRGS, como o periódico que mais publica trabalhos sobre a temática no Brasil.

Além das ações de ensino e pesquisa, o PPGEF se destaca pela capacidade de intervenção social e inovação territorial. Projetos conduzidos por docentes e discentes resultaram em assessorias gratuitas a organizações de agricultura familiar, na criação do Circuito do Migrante — coletivo que reúne agentes de acolhimento a migrantes e refugiados em Corumbá e Ladário — no mapeamento de organizações da sociedade civil que atuam em diferentes causas socioambientais nesta fronteira, na proposição de políticas públicas e no desenvolvimento de tecnologias sociais e protocolos de atuação junto a instituições públicas e forças de segurança. Essas experiências consolidam o papel do Programa como indutor de soluções inovadoras para desafios fronteiriços e pantaneiros.

Entre as iniciativas estruturantes que fortalecem essa presença territorial destacam-se o Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica do Pantanal (NEAP-UFMS), o Observatório das Migrações Internacionais na Fronteira (MigraFron) e o Observatório de Inovação Social da Fronteira (OBISFRON), ambos vinculados ao Programa. O Neap atua no fortalecimento da transição agroecológica dessa fronteira, considerando o trânsito internacional de alimentos. O MigraFron atua na sistematização de informações e no apoio à formulação de políticas públicas de acolhimento a migrantes e refugiados, enquanto o OBISFRON tem se consolidado como plataforma de articulação entre universidade, poder público e sociedade civil na promoção da inovação social em territórios fronteiriços.

O processo de internacionalização vem sendo fortalecido por cooperações acadêmicas vigentes com instituições estrangeiras, incluindo a Universidade de Kentucky (EUA), a Universidad Nacional de Quilmes (Argentina), a Universidad Arturo Prat (Chile), a Universidad Nacional de Salta (Argentina) e o Colegio de la Frontera Norte (México). Tais parcerias promovem, dentre outras, intercâmbios, cotutelas, mobilidades e publicações conjuntas, ampliando a visibilidade do programa. Destaca-se também o diálogo/pesquisas de parte dos docentes do programa com a Universidad de Guadalajara (México) e a Universidad de Buenos Aires (Argentina) e a atuação do coletivo Trabalho, Psicanálise e Crítica Social, que reúne pesquisadores da UFMS, da Universidade de Lisboa e do Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM), em Paris.

Até o final de 2024, 70% dos docentes publicaram em periódicos internacionais e metade integra comitês editoriais estrangeiros. Essa presença global reflete o esforço coletivo de internacionalização e o reconhecimento crescente da qualidade científica produzida a partir do Pantanal.

Resumidamente, pode-se afirmar que o PPGEF é relevante no seu contexto por, no mínimo, algumas razões:

– Por sua localização geográfica em região de fronteira, com elevado percentual de pessoas em condições de pobreza;

– Para amplificar a qualidade das pesquisas sobre as fronteiras;

– Pela inexistência de programa de pós-graduação stricto sensu num raio de 300 km desta localidade, além deste e do PPG em Educação do CPAN;

– Por ter sido um dos primeiros programas da América do Sul a organizar todas as suas linhas de pesquisa voltadas aos estudos fronteiriços, consolidando-se como referência nessa temática;

– Pelo protagonismo de sua atuação junto aos problemas socioambientais em áreas de fronteira;

– Pela necessidade de pesquisas sobre o Pantanal e para seu melhor aproveitamento.

O PPGEF consolidou-se como referência nacional e internacional nos estudos sobre fronteiras, mantendo intensa articulação com políticas públicas, redes de pesquisa e iniciativas institucionais da própria UFMS. A avaliação 2017-2020 da CAPES reconheceu sua consistência formativa, inserção regional e potencial de internacionalização, recomendando o aperfeiçoamento das ações de mobilidade acadêmica e a ampliação das bolsas discente. Isso foi operacionalizado na quadrienal 2021-2024, ocasião em que o curso conseguiu 10 bolsas para mestrados junto a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (todas concluídas e defendidas com sucesso). Nesse mesmo período, apenas uma discente realizou mobilidade acadêmica, na Universidade Nacional de Salta (UNSa), Argentina, com recursos próprios, uma vez que o programa ainda não dispõe de editais ou recursos específicos para intensificar essa modalidade de internacionalização. Outra limitação refere-se ao fato de, por se tratar de um programa profissional, não contar com garantia de bolsas nem de recursos PROAP. Ainda assim, o compromisso de buscar novas bolsas e fomentar a mobilidade internacional foi renovado para o ciclo de planejamento 2025–2028.

A nova fase do PPGEF (2025 – atual) demandou, ainda, uma atualização do corpo docente, com processos de credenciamento e descredenciamento que possibilitaram o ingresso de professores do CPAN e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), sendo o recorte para a promoção da equidade de gênero um critério fundamental nesse processo. Essa recomposição reforça a diversidade de perfis e a interdisciplinaridade do Programa, qualificando sua capacidade de resposta às demandas emergentes da fronteira e às diretrizes da Área 45 da CAPES.

O novo grupo docente, comprometido com a elevação do conceito do Programa para a nota 5, vem atuando em diálogo com os desafios estratégicos aqui detalhados. As ações implementadas têm como base os resultados da autoavaliação realizada ao final do quadrienal 2020–2024, que subsidiaram o processo de recredenciamento docente e a reformulação do regulamento e da matriz curricular. Esse esforço coletivo contempla a atualização de referências teóricas, a incorporação de novas temáticas e tecnologias e a adequação do projeto formativo às demandas regionais, de modo a refletir as novas vertentes avaliativas e formativas estabelecidas pela CAPES.

Tais avanços resultam do trabalho articulado da Comissão de Planejamento Estratégico e Autoavaliação, e da Comissão de Regulamento e Matriz Curricular do PPGEF, composta por docentes e discentes que orientaram suas ações a partir dos resultados da autoavaliação discente de 2025. Trata-se, portanto, de um processo transparente, participativo e inovador, que consolida o compromisso do PPGEF com a melhoria contínua da qualidade formativa e com o fortalecimento da pós-graduação em estudos fronteiriços na UFMS.

No contexto dessa nova fase, o PPGEF instituiu o Seminário de Pesquisa do PPGEF, evento anual a ser realizado sempre ao final de cada ano letivo. O Seminário constitui um espaço permanente de socialização das produções acadêmicas e de fortalecimento da cultura de autoavaliação do Programa. Nele são apresentados os resultados anuais do processo de autoavaliação e monitoramento do plano de trabalho docente, promovidas formações discentes voltadas às demandas identificadas ao longo do ano e realizadas ações de reconhecimento acadêmico.

Em 2025, por exemplo, estão previstas as formações “Caminhos para acessar a produção científica: bases de dados e revisão”, ministrada pelo pesquisador Dr. Leonardo Gomes, e “A importância da interdisciplinaridade no âmbito dos programas profissionais”, com a Dra. Márcia Bento. Na mesma ocasião, será realizada a premiação das melhores dissertações defendidas no ano, com uma menção honrosa por linha de pesquisa e uma premiação geral para a melhor dissertação do ano. Também haverá a reunião geral anual docente, para discutir os resultados da autoavaliação e cumprimento do Plano de trabalho. Esse evento se consolida como uma ação estruturante de valorização discente, de estímulo à excelência acadêmica e de integração entre docentes, discentes e egressos do Programa.

Enraizado em Corumbá, o PPGEF reafirma sua vocação de conectar a realidade local às redes globais de conhecimento, contribuindo para o fortalecimento da pós-graduação no Centro-Oeste e para o papel da UFMS como universidade de fronteira, cooperativa e socialmente transformadora.